O Enigma do Dinheiro: Por que ele parece tão inalcançável?
A seguir, apresento um relato baseado em experiências reais de consultorias para pequenas empresas.
Hoje, tive a oportunidade de atender um cliente promissor. Arthur, um jovem contador desempregado, que decidiu deixar seu emprego em um escritório estagnado, onde o crescimento parecia um sonho distante. Arthur é um jovem alto, de olhos pretos, cabelos longos e encaracolados, e uma camisa preta casualmente fora das calças. Ele mantém uma expressão séria na maior parte do tempo, mas às vezes sorria de forma marota, quando se sente vulnerável.
Quando Arthur se sentou à minha frente, eu o cumprimentei.
– Bom dia, Arthur. Eu sou o Valente. Como posso ajudá-lo hoje?
– Estou pensando em abrir um negócio, mas não tenho ideia do que quero fazer. Talvez comprar uma franquia ou começar algo do zero.
– Interessante. E por que você quer abrir uma empresa? O que o motiva a empreender?
– Bem, eu não quero mais trabalhar para outras pessoas. Quero ser meu próprio chefe. Além disso, acredito que sou inteligente e tenho bastante tempo livre, já que não tenho namorada nem uma vida social agitada. Então, posso me dedicar totalmente ao negócio. Se você me disser qual é o negócio que eu devo abrir, minha vida financeira estará resolvida.
Ane, que estava acompanhando o atendimento, pensou que essa era a ilusão dele.
– Entendi. Mas antes de prosseguirmos, deixe-me fazer uma pergunta. Você pode me dizer qual é o próximo número na seguinte sequência: 1, 3, 5, 7, 9, XX?
– 11 – ele respondeu, com um ar de vitória.
– Muito bem, você acertou. E qual é o próximo número nesta outra sequência: 1, 3, 9, 27, 81, XX?
Ane observou enquanto ele pensava, revirava os olhos, pensava de novo, desistia de responder e perguntava, sorrindo:
– Afinal, qual é o propósito deste teste?
– Este teste mostra o quanto você está preparado para empreender. Vou lhe contar um segredo. Vou revelar para você as respostas de uma pesquisa internacional que inclui a seguinte pergunta: “você acha que está preparado para tocar um negócio por conta própria?” Em países de economia intermediária, como o Brasil, a maioria dos entrevistados respondeu afirmativamente à pergunta, dizendo-se preparado, assim como você acha que está. Em países de economia avançada, como Japão e Estados Unidos, a resposta se inverteu, dizendo-se despreparados para tal empreendimento. Isto significa que os empreendedores de cá não enxergam o alto grau de complexidade que existe num empreendimento como enxergam os empreendedores de lá. A percepção dos empreendedores brasileiros é semelhante à sequência simples de progressão aritmética da primeira série de números, enquanto que a percepção (correta) das pessoas dos países desenvolvidos é semelhante à sequência de progressão geométrica da segunda série de números.
– Arthur, preste atenção, na verdade, a maioria dos nossos empreendedores entende daquilo que faz como entenderia um empregado. Entende de cozinhar (chef), de costurar, de língua estrangeira, de contabilidade, mas não entende do negócio em si como, por exemplo, atrair clientes, como se ganha dinheiro naquele setor, como vender, como criar relações, como criar vantagem via produtividade, como liderar e motivar equipes, como enfrentar e superar a concorrência e assim por diante.
– Responda-me Arthur, com sinceridade, neste quesito ‘dominar a atividade empreendedora’ o quanto você está preparado? O quanto você conhece a atividade que vai empreender?
– Não tenho conhecimento algum, pois nem sei qual é o ramo que pretendo atuar…
– Então, vamos avançar. Imagine que você está no meio da selva amazônica e recebe apenas informações sobre o faturamento de sua empresa. Você seria capaz de tomar alguma decisão?
– Provavelmente não – ele respondeu corretamente.
– E se você tivesse informações sobre salários pagos, receitas, aluguel, custos da mercadoria, contas a pagar, contas a receber, tributos, custos de entrega, pró-labore, você seria capaz de calcular a margem de contribuição, o lucro operacional, o lucro líquido, a rentabilidade e o retorno do investimento, e a partir destes indicadores tomar decisões para garantir o crescimento lucrativo da empresa?
– Não, pois não tenho conhecimento sobre este assunto.
– Mais uma pergunta. Quanto dinheiro você tem para investir como capital inicial?
– Pouco, muito pouco, ele respondeu.
– Arthur, você entendeu o que conversamos até agora? Veja, sabemos que não existe negócio certo. Mesmo que o empreendedor domine sua atividade (33% de êxito), domine a linguagem empresarial (33% de êxito) e tenha o capital necessário e suficiente (33% de êxito), ainda assim existe 1% atribuído àquilo que é aleatório e depende da sorte ou azar. Mas também sabemos, por experiência, que existe a ilusão da mágica do empreendedorismo, que é o seu caso, que, ao contrário, faz com que a pessoa abra o seu negócio com apenas 1% de probabilidade de sucesso.
Ane, que estava acompanhando o atendimento, percebeu que Arthur estava começando a entender que iria para o mercado com apenas 1% de chances de sucesso.
– Isso é incrível – disse ele, com o semblante de quem acabou de ter uma grande revelação.
– Você não é uma exceção, Arthur. Sua situação é semelhante à de muitos empreendedores brasileiros, que veem o empreendedorismo como um substituto do emprego. Isso é um grande equívoco, pois o empreendedorismo é um instrumento do capital, de investimentos que são realizados e requerem o retorno do dinheiro investido, multiplicado, o mais rápido possível.
– Por isso, muitos microempresários brasileiros trabalham incansavelmente e não veem a cor do dinheiro. Eles praticam um subempreendedorismo. Na maioria das vezes, jogam um jogo em que não conhecem direito as regras, e daí, na linha de partida, saem atrasados e devendo. Atrasados em relação ao domínio da atividade empreendedora, em relação ao conhecimento da linguagem empresarial e devendo em relação ao capital necessário e suficiente. Depois, passam a vida inteira tentando recuperar o tempo perdido, e poucos conseguem dar a volta por cima.
Agora, estamos em 2023, e o ano de 2024 está logo ali. É hora de pensar grande e fazer um favor a si mesmo: prepare-se antes de empreender. E se já for um empreendedor, prepare-se ainda mais. Comece a construir o orçamento da sua empresa para 2024 agora mesmo. Planeje, estude, invista em conhecimento e em recursos. Lembre-se, o sucesso no empreendedorismo não é uma questão de sorte, mas de preparação, estratégia e trabalho duro. Boa sorte na sua jornada empreendedora!”