Talvez seja hora de reler Platão.
Pois, por mais que as batalhas do mundo pareçam concretas (e, de fato, são), a origem sempre é no mundo das ideias. A história da humanidade é uma sucessão de guerras, com alguns intervalos de paz; ou como diria Edward Gibbon, em seu colossal livro Declínio e queda do império romano, a história nada mais é “que pouco mais do que o registro dos crimes, loucuras e desventuras da humanidade.”.
Concretamente, a vivência da guerra; no mundo das ideias que as originou, visões, como superioridade de raças, salvação das almas, liberdade, igualdade, civilização contra a barbárie, salvação do planeta.
Modernamente, temos a ideia, conduzida por uns poucos líderes, reunidos no topo de uma montanha gelada, impregnando-se no mundo dos negócios, sobre o alinhamento das empresas às questões ambientais, à inclusão da diversidade social e à transparência da gestão empresarial. Descritas dessa maneira essas ideias parecem frágeis. Mas, “envelopadas” na sigla ESG, e repetida à exaustão, se torna uma poderosa ideia ditatorial, que, praticamente, não dá margem à discussão: tem que ser implantada (para o bem de todos, no planeta!).
Recentemente, li numa entrevista de um empresário de destaque, uma voz, ao mesmo tempo, dissonante e alinhada com esse tema, que, em minha avaliação, é muito oportuna dar muita publicidade, para a “salvação” das empresas e também do planeta.
O empresário é o Grynbaum, CEO da Boticário, e deu entrevista no site capital reset. Eis um dos trechos da entrevista para ilustrar o referido tema.
Pergunta:
Mas isso demanda um alinhamento entre a operação e o que espera o acionista, porque são escolhas que precisam ser feitas, não? No caso do Boticário o alinhamento é automático porque a companhia tem dono.
Resposta:
Isso tem a ver com a cultura da empresa também. Óbvio, se o acionista fala que não quer uma coisa…
…O que você nunca vai ouvir aqui dentro é ‘eu quero resultado a qualquer custo’; e com isso estamos estimulando um tipo de comportamento. Aqui a frase que a gente usa é que o resultado que a gente gera é tão importante quanto a forma como a gente gera esse resultado. Isso é um mantra. Tem um alinhamento cultural. Tem mais facilidade porque o acionista está na operação.
…ESG é fazer as coisas do jeito certo.
…Sempre tentamos trazer o olhar para o business.
Veja que, ninguém em sã consciência, é contra o meio ambiente (Environment), ou contra inclusão (com competência) social (Social), ou contra fazer os negócios da maneira certa, com lucro e transparente (Governança).
O equívoco passa a acontecer, quando se dá uma atenção desproporcional para as letras E e S, em detrimento da G. Pois, de fato, como disse o empresário Grynbaum, não se trata de uma questão de sopa de letrinhas. Trata-se, de bom senso, e das consequências de se fazer as coisas certas, primeiro para a própria empresa, que existe para servir à população, sem a qual não existiriam produtos e serviços para atender às necessidades e desejos da sociedade, nem tampouco emprego para as pessoas. Alinhado a essa ideia primordial, deve-se integrar a ideia da produção com eficiência ecológica e inclusão social.
Assim, parece que podemos caminhar juntos, sem conflitos, em convergência de interesses, elegendo como propósito empresarial a ideia chave de sobreviver ao menor custo (incluindo ESG), e não crescer a qualquer custo.
Aliás, essa é a tese de nosso Programa de Aconselhamento, Conselho Verissimo.
Então, antes de “mãos às obras”, vamos de “mentes alertas” e dar difusão à essa ideia, afinal sabemos, tudo começa no mundo das ideias. Conforme Platão, claro.
Você pode ler a entrevista completa logo abaixo, a qual foi selecionada pela curadoria do Conselheiro Juarez Leão.
